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Mais um preso morto no IPPS (Jornal O Povo)

Um corpo enrolado em um colchão foi encontrado no fim da tarde de ontem, na rua E do Pavilhão 7 do Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), em Aquiraz. José Roberto da Silva Oliveira, o Beto, condenado a 15 anos de prisão por homicídio, tornou-se o 18º detento assassinado neste ano no interior do presídio.

Um dia antes, dois presos foram encontrados mortos carbonizados em uma cela do mesmo pavilhão: Júlio César Braga Rocha, condenado por homicídio, e Romildo Dias Ramalho, condenado por roubo. De acordo com o diretor do IPPS, coronel Antonio Oliveira, o corpo de José Roberto estava prestes a ser incinerado, assim como os outros dois detentos, pela forma como foi encontrado. A ação foi evitada, acrescenta, por causa da chegada dos agentes penitenciários. O corpo tinha várias marcas de perfurações. Cossocos (instrumentos perfurantes fabricados artesanalmente) foram encontrados na cela. O ofi cial descarta, no entanto, qualquer ligação com as execuções da última terçafeira, dia 11. O IPPS teve um dia de visitas tenso ontem. Os agentes penitenciários estão em greve desde a última quinta-feira, dia 6. Eles cobram o cumprimento da lei que assegura o pagamento de um piso salarial relativo à formação de ensino médio, e não mais apenas de ensino fundamental. A medida faria com que os vencimentos passassem de R$ 1.051 para R$ 1.790. O secretário da Justiça, Marcos Cals, respondeu, por meio da imprensa, que só negociará após o fi m da paralisação. Mesmo com a greve, o presidente do sindicato da categoria, Augusto Coutinho, informou que a quantidade de profi ssionais que trabalham no IPPS continua a mesma (15 agentes): "Não podemos reduzir esse número, até por questões de segurança dos próprios agentes". O IPPS tem capacidade para 946 pessoas, mas hoje contabiliza 1.356 detentos. Ou seja, cada profi ssional tem de supervisionar 90 presos. A maior parte dos detentos passa o dia e a noite andando pelas ruas e galerias do presídio. Trancas Há cerca de um ano, a tranca das celas passou a ser fechada por meio de parafusos e não mais de cadeados. A medida, de acordo com o secretário-executivo da Sejus, Edilson Araújo, difi culta as fugas. "Os detentos lixavam os cadeados ou usavam chaves minchas para abrir os cadeados. Agora, eles não têm mais acesso aos parafusos, pois a tranca só pode ser aberta por fora. Isso faz com que o trabalho de arrombá-la leve mais tempo", explica. O problema é que chaves de boca estão sendo introduzidas clandestinamente no presídio para facilitar a saída dos presos, de acordo com uma fonte que pede para não ser identifi cada. Ela relatou ao O POVO que PMs e agentes penitenciários estão sendo pagos pelos detentos para realizar esse serviço. A morte dos detentos, acrescenta, contaria com a conivência de pessoas que trabalham no presídio. Após a morte de dois detentos carbonizados, na última terça-feira, dia 11, mais um preso foi assassinado no IPPS ontem. O número de execuções chega a 18 neste ano. As ações estariam ocorrendo sob a conivência de policiais e agentes

 "Como é que o Estado permite uma briga de gangue dentro do presídio? Se ele não consegue manter a integridade das pessoas que estão ali dentro, imagine fora dele". O questionamento parte da presidente do Conselho Penitenciário do Estado do Ceará, a defensora pública Patrícia Leitão. Criado para fi scalizar o sistema penal, o órgão já fez diversos encaminhamentos e denúncias sobre os problemas que afetam o Instituto Penal Paulo Sarasate. Segundo a presidente do conselho, os presos têm de fazer conchavos com outros presos e cumprir tarefas determinadas pelas lideranças do presídio para poder sobreviver. Quem contraria esses interesses é morto. "O Estado tem de oferecer dignidade e garantir a identidade física dos presos. As famílias dos mortos têm direito a uma indenização, pois o Estado está falhando em garantir a vida desses homens". Esse quadro de insegurança, de acordo com Patrícia Leitão, é refl exo da superpopulação carcerária, do pequeno número de agentes penitenciários e da corrupção de pessoas que trabalha no presídio. Além disso, acrescenta, não existem políticas de ressocialização e de ocupação dos detentos. "Não há ambiente que possibilite ou que permita a recuperação desse homem. Os que estão no presídio são as pessoas das camadas mais pobres da população. Falar de ressocialização é um erro. Elas nunca foram socializadas. É preciso ocupá-los e oferecer oportunidade de capacitação", afirma. O POVO tentou entrar em contato com secretário da Justiça, Marcos Cals, mas ele não atendeu as ligações do celular.

Veículo: Jornal O Povo
Caderno: Fortaleza