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Quer vender seu voto? Venda, mas não passe recibo

SALDANHAAlexandre de Moraes Saldanha*

As eleições se aproximam e também com ela um mal que está alastrado no pensamento da sociedade como algo comum, normal e corriqueiro: a compra e venda de votos!

Boa parte das mazelas que temos em nossa sociedade é de responsabilidade dessa prática espúria. Tanto quem compra como quem vende está cometendo crime, de acordo com o art. 299 do Código Eleitoral. No entanto, como não vejo possibilidade dessa prática ser abolida sem que tenhamos uma educação de qualidade ofertada a todos, algo que tenho fé que se concretizará nos próximos 50 anos, proponho uma solução intermediária, considerando que esse tipo de crime é de difícil apuração pelas autoridades competentes: venda seu voto para quem quiser lhe pagar, inclusive para mais de uma pessoa, mas não passe recibo. Quero dizer com isso que você, eleitor inconsciente ou semiconsciente, não deve votar naquele candidato que conseguiu para você uma consulta, um exame, uma cirurgia, algum medicamento, ou deu dinheiro, dentadura, cimento, tijolo, gasolina ou qualquer outra coisa em troca de seu voto. Muito pelo contrário, você deve votar justamente em quem não lhe comprou o voto. A razão é simples e explico: aquele candidato que comprou seu voto tem o sentimento de que a obrigação política para com você, que vendeu o voto, já se esvaiu no momento em que comprou e direcionou seu voto, ou seja, ele não se sente mais um representante seu, pois ele já deu a contraprestação dele para você antes mesmo de assumir o cargo político. Agora, depois de assumir o cargo almejado, ele terá compromissos sérios para com aqueles empresários e pessoas que emprestaram dinheiro ou favores para que ele (candidato) conseguisse comprar o seu voto, e ele terá apenas 04 anos para conseguir compensar esse “empréstimo”, seja de forma lícita ou não, como em licitações fraudadas com preços acima dos de mercado ou em obras que nunca saem do papel ou, quando saem, não correspondem ao que deveriam ser, entre outras coisas.

Outro ponto importante a ser explicado é sobre a ameaça e o medo que o candidato faz aos eleitores de quem compra os votos, pois afirma que tem como controlar e saber quem votou nele ou não. Isso é balela! O voto é secreto e o comprador do voto não tem como descobrir se o “contrato” está sendo cumprido. O máximo que o candidato pode ficar sabendo é quantos votos para ele saíram em certa seção eleitoral. Basta ter um voto para ele naquela seção que ele jamais terá como saber quem votou nele ou não, uma vez que os votos não são vinculados ao título eleitoral ou identificação de ninguém.

Em suma, se você tiver coragem, recuse-se simplesmente a vender o seu voto ou providencie alguma prova da compra de voto (gravação com celular, por exemplo) e denuncie ao Ministério Público Eleitoral (Promotor) mais próximo. Contudo, se não tiver essa coragem e consciência, pelo menos ao vender seu voto, não vote em quem lhe comprou, pois esse indivíduo não terá nenhum compromisso com você e terá o “rabo preso” com as pessoas que emprestaram dinheiro para comprar o seu precioso voto. Talvez assim consigamos uma política melhor em menos tempo, com políticos que verdadeiramente nos representam, trabalhando e lutando para atender as reais necessidades da população.

* Defensor Público