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Aline Miranda | 8 de março – Criando nossos filhos longe do machismo estrutural

O machismo estrutural está ligado ao aspecto cultural nos usos e costumes da sociedade que fortalece o patriarcado, na ideia de superioridade do homem. É mais difícil de ser enfrentado, mas está na raiz do problema.

Exemplo disso: Quando meu pai faleceu há três anos, me perguntaram, agora você vai cuidar de sua mãe, vai morar com ela ou levá-la para morar com você e seus filhos? Mas ninguém perguntou isso aos meus irmãos homens – a ideia de que a vida da mulher sem um homem é menos valiosa do que a de um homem, casado ou não e isso é estrutural e quase imperceptível.

Quando eu era mais jovem e ia a casa de amigos com meus pais, os homens ficavam conversando e rindo alto na sala e as mulheres todas conversando na cozinha, preparando comidas para servi-los. Depois, eram elas que cuidavam de arrumar tudo. Isso é cultural, é estrutural.

Quando eu trabalhava numa grande indústria aqui de Fortaleza, como advogada, com dois advogados homens, fazíamos o mesmo trabalho, mas eu ganhava menos.

E naqueles comentários tão comuns, como: “Essa menina vale por dois” (porque não duas?!) ou “Essa menina trabalha como um homem” (porque não como uma mulher?

Ou quando uma mulher pede a um homem que troque o pneu do carro, por exemplo, ainda houve a piadinha: “Ah! Nessa hora vocês não querem direitos iguais, né?”, relevando assim o interesse de se estabelecer em superioridade.

São frases, permeadas de uma cultura que valoriza mais o homem do que a mulher, repetida até por mulheres, até mesmo por nós, no dia a dia e sem se perceber. Isso é muito mais difícil de desconstruir, exige um exercício diário. É a partir de uma compreensão desse processo, que podemos nos vigiar, ficar atenta para não reproduzir isso na educação dos nossos filhos.

Por exemplo, quando em casa, tem um menino e uma menina e as vezes pedimos favores mais domésticos a menina do que ao menino? “Filha, me ajuda a lavar a louça hoje”, enquanto isso o menino fica jogando videogame… Ou algo do tipo: “filha, você é uma mocinha mantenha seu quarto arrumado”, ou seja, nesse caso somos mais condescendentes com os meninos.

A mudança que esperamos nesse estado de coisas, parte de um trabalho que exige tomada de consciência, reflexão, ação, muito diálogo desde casa aos espaços públicos e sobretudo empoderamento das meninas e mulheres com a educação dos meninos para respeitar as liberdades da mulher e a igualdade de gênero.

Nesse contexto, reforço que a Defensoria Pública tem por escopo promover a educação em direitos humanos e está lado a lado da população, tem o papel preponderante nesse processo de levar compreensão, conscientização e enfrentamento do machismo estrutural.

Veja só, para a violência sofrida pela mulher, fruto do machismo, temos a lei que a Defensoria Pública também lança mão na defesa das mulheres e para tratar do machismo estrutural, ela se vale do processo de educação da população a partir do diálogo.

A reflexão então é que todos nós fazemos parte do processo de desconstrução do machismo, sejamos nós mães, pais, avós, amigos e até mesmo instituições e entidades. É preciso estarmos atentos, buscando estratégias/caminhos para seguirmos cada vez mais longe do machismo estrutural.

Aline Miranda
Defensora Pública e Diretora de Comunicação Social da ADPEC