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Ana Cristina Teixeira Barreto: Envelhecer é um ato de resistência!

Em outubro é comemorado o dia do idoso. A data escolhida pela ONU visa sensibilizar para o envelhecimento e para a necessidade de proteção e cuidados com a população idosa. Mas, que imagem fazemos da velhice? A própria palavra parece remeter a algo ultrapassado, sem serventia. Mas, é isso que envelhecer significa? 

Muitos permanecem ativos e continuam trabalhando e produzindo. Fazem tudo ao seu tempo, aliás, o tempo já não importa tanto. Prioriza-se a qualidade das relações, do trabalho, dos momentos e da vida que é vivida em sua plenitude.

Tantos outros, por razões socioeconômicas, lamentam-se por envelhecer. Para eles, é preciso proteção e cuidado após anos contribuindo com sua força de trabalho, saúde e inteligência para o país. 

O que chamo atenção é para o ageismo que assola as sociedades de consumo. O ideal da eterna juventude e beleza faz de nós, prisioneiros dos estereótipos. Envelhecer é natural, mas parece ir de encontro aos valores que a sociedade impõe: valemos tanto quanto nossos corpos são capazes de se manter bonitos e jovens. 

Envelhecer é inexorável, porém, imperdoável. É, por isso, um ato de resistência. Mas, assumir as marcas da idade tem gerado comentários cruéis nas redes. Os haters não perdoam quem ousa confrontar os padrões.

O recado que trago é o de que envelhecer é um processo natural: só envelhece quem está vivo! E esse processo pode ser prazeroso, produtivo, lindo e poético. Não se tem mais a mesma mobilidade, mas, ainda assim, é possível sonhar e viver! 

Envelhecer com dignidade e na forma escolhida é um ato de resistência! Resistir ao que se impõe como padrão de comportamento e estética contra o preconceito (sentimentos) e a discriminação em relação aos mais velhos é um direito de quem envelhece.

Ter mais idade significa apenas mais anos de vida, mais vivência. Envelhecer não é o prenúncio da morte. Permitam se envelheça com dignidade, respeito e empatia: não julguem quem escolhe assumir as marcas do tempo ou se, conscientemente, quiserem escondê-las.

Deixem que as pessoas envelheçam com sua própria verdade e consciência!

 

 Ana Cristina Teixeira Barreto

DEFENSORA PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ

DOUTORANDA PELA UNIVERSIDADE DE COIMBRA