Minha História, Nossa Luta

Dr. Guy Bravos Monteiro – Minha História, Nossa Luta

O amor gera lembranças que não se apagam. Comporta-se de forma coerente apenas com o que sente o coração, por mais que as recordações teimem em se esconder. Desmantela qualquer convenção e nos faz ser aceitos por quem nos ama simplesmente porque algo nela pede. O amor por Dona Ariléa, cultivado em 50 anos de casados, é o que mantém aceso o pouco de lucidez que resta a Guy Bravos Monteiro, um homem que guarda em seu rosto cicatrizes de uma vida de luta e de realizações. Guy Bravos Monteiro não lembra de seu passado. Guy tem Alzheimer.

A primeira vez que Guy viu Ariléa, estavam os dois no Centro da Cidade – ao fundo o Passeio Público. Quando a viu faceira a caminho do colégio, disse: “Vou casar com essa menina”. Não deu outra. Os filhos vieram logo. Tiveram 5. “Três deles, sendo dois gêmeos, têm menos de 1 ano de diferença”, diverte-se Dona Ariléa. Os tempos eram difíceis. Quando casou, Guy, filho de pessoas muito simples de Jaguaruana, não tinha concluído o 1º Grau. À época, trabalhava vendendo geladeiras. Um dia, um vendedor de jóias passou e Guy se encantou com o anel de formatura do curso de Direito. Comprou-o e sentenciou: “Vou ser advogado”.

No melhor estilo “À procura da felicidade”, filme em que o ator Will Smith interpreta um homem que supera todas as dificuldades em busca de um sonho, Guy realizou o seu. Fez supletivos e foi aprovado em seu primeiro vestibular. “Ele trabalhava vendendo geladeiras durante o dia, estudava à noite, e balançava os meninos nas horas livres”, lembra Dona Ariléa. Ao se formar, Guy trabalhou anos em escritórios de advocacia onde fez grandes amigos, entre eles o também defensor público Adriano Josino. Ao ser aprovado no concurso para defensor, então advogado de ofício, fez carreira atuando nas comarcas de Jaguaruana e Pentecoste, seguidas do Juizado de Pequenas Causas de Fortaleza, onde trabalhou até se aposentar.

Neste sábado, dia 9 de novembro de 2013, o Dr. Guy completa 79 anos de idade e nos prova que a emoção, o amor, são coisas que definitivamente não estão associadas à razão. Tanto é assim que basta vê-lo ao lado de Dona Ariléa para saber que de alguma forma ele sabe exatamente o significado dela em sua vida. A propósito, a entrevista na verdade foi concedida por Dona Ariléa, em função da impossibilidade do Dr. Guy. E é com a voz embargada de tanto amor que ela finaliza. “Vamos ficar juntos até o último dia das nossas vidas”. Feliz aniversário Dr. Guy. Vida longa aos dois.

Por Lucílio Lessa

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