Minha História, Nossa Luta

Dra. Lea Gondim Calvasina – Minha História, Nossa Luta

Lea Gondim Calvasina é uma senhora elegante, de fala mansa e cabelos muito bem arrumados. Ao sentar em seu sofá para uma sessão de fotos, reclinou-se com as pernas penduradas de lado, enquanto o sol batia levemente em seu exuberante vestido vermelho. Ao redor, quadros que ela mesma pinta decoram o ambiente, enquanto ela percorre o espaço placidamente, ao mesmo tempo que dedica toda sua atenção ao convidado.

Lea é uma dama no melhor sentido da palavra. Não simplesmente pela sua fala mansa, ou pelo cabelo arrumado, ou mesmo pelo seu exuberante vestido. Lea é uma dama pela dignidade que deixa transparecer paralelamente a todos esses outros predicados. Dignidade que ecoa em sua história de garra e talento.

Nascida em Fortaleza, a defensora é filha de um político e de uma bem sucedida comerciante de Tauá. Ao falar da mãe, embarga a voz, mas se contém. “Ainda hoje sinto saudades”, diz. As lembranças escorregam de sua mente à medida que ela revira as gavetas de seu passado. Da infância, aponta que quando menina ficava ouvindo os julgamentos pelo rádio. Ali nascia a advogada.

Lea estudou o ginasial no Ginásio 7 de Setembro, e em seguida foi para o Liceu do Ceará. “O professor de idiomas era um francês”, lembra, revelando em seguida que sempre se interessou em aprender outras línguas e culturas. E assim o fez. “Depois de casada, passei 8 anos viajando pela Europa, por conta do trabalho de meu marido (um executivo italiano). Mas voltamos pela saudade que eu sentia de minha família”, revela. Da união, nasceu a única filha, Paola, que atualmente faz doutorado no Canadá.

O casamento e as viagens internacionais só ocorreram após a formatura no curso de Direito. Da época da faculdade, Lea ressalta as muitas amizades que fez. Algumas que inclusive perduram até hoje. “Sempre penso com carinho nos meus amigos”. Ao se formar, trabalhou como intérprete e enveredou pela área do serviço público em outros órgãos, até que fez concurso para advogada de ofício, hoje defensora pública.

Como defensora, Lea decidou boa parte de sua atuação ao IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate). “Um lugar totalmente distante de mim. Mesmo assim, sempre fiz o possível para tornar melhor a vida daquelas pessoas.Todos eles me respeitavam muito”, conta. De lá, seguiu para a vara de família e sucessão, concomitantemente com a vara cível. Por último, trabalhou no atendimento ao público da Defensoria Pública, até se aposentar.

Apesar da desenvoltura e atenção de Lea durante a entrevista, em alguns momentos da conversa, uma nesga de silêncio infiltrava-se no ambiente, isso sempre que ela mostrava um de seus quadros. Não por vaidade, mas pelo evidente respeito ao seu esforço, ao seu talento. Em cada tela, uma história, uma memória, uma saudade, ou simplesmente a contemplação do belo através da reprodução de artistas a quem ela admira, como Pablo Picasso. E assim, como uma brisa suave, Lea se despede, com sua fala mansa, seus cabelos bem arrumados, e seu jeito sensível, jeito genuíno de artista.

Por Lucílio Lessa

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