Minha História, Nossa Luta

Dra. Maria Áurea da Costa Graça – Minha História, Nossa Luta

A dimensão humana e solidária da defensora pública aposentada Maria Áurea da Costa Graça evidencia uma mulher que não só descobriu uma vocação, mas sua missão na terra. Como ressonância do que aprendeu com os pais, um comerciante de Acaraú e uma dona de casa, ela demonstra ainda hoje o espírito altruísta e a genuína capacidade de se compadecer do sofrimento alheio. Tanto é assim, que por vezes teve que interromper seu depoimento ao “Minha História. Nossa Luta”, ao rememorar, emocionada, as tantas histórias de vida que presenciou. Histórias de pessoas a quem ela deu a mão e que curiosamente Dra. Áurea ainda chama pelo nome, como é comum fazer com um amigo.

Áurea, assim como suas cinco irmãs, estudou em colégio freiras, em Acaraú. Na adolescência, mudou-se para Fortaleza, com o intuito de estudar para ingressar na faculdade de Direito. Mas ao mesmo tempo que seguia o currículo clássico no Liceu do Ceará, estudava à noite na Escola Normal. E apesar da vocação natural pelo estudo das leis, foi convencida a tentar uma outra área. “Havia advogados na família. Eles diziam: ‘Você é muito boazinha. Direito é profissão masculina’”, recorda.

A falta de incentivo dos familiares fez com que Áurea buscasse outros caminhos. Inicialmente estudou economia doméstica na Universidade Rural do Rio de Janeiro, mas não se identificou com o curso e voltou ao Ceará. Ao chegar, uma tia a convenceu a fazer Serviço Social, chegando a concluir o curso na Universidade Estadual do Ceará (Uece), em 1979, ano em que casou com seu companheiro de décadas, Winston, com quem teve dois filhos.

Apesar de ter se identificado com a profissão de assistente social, Áurea sentia que algo lhe faltava. “Sempre gostei de trabalhar com gente, mas a profissão não me permitia uma resposta objetiva para os problemas das pessoas”, conta. Já servidora pública, ela atuou na Fundação do Bem Estar do Menor, que pertencia à Secretaria de Justiça, e em seguida na assessoria judiciária aos necessitados. “Foi quando me encontrei”, diz, emocionada.

Não tardou para Áurea concluir o curso de Direito pela Universidade de Fortaleza (Unifor), conseguindo, através do procedimento de transformação de cargos, iniciar sua trajetória como advogada de ofício, hoje Defensora Pública. Na profissão, atuou na petição inicial, bem como no Instituto Penal Olavo Oliveira, e ainda no Núcleo da Defensoria Pública no Conjunto Santa Teresinha. Mas o relato de sua trajetória profissional não estaria completo, se não fosse mencionada a corrente do bem encabeçada por ela, e que contava com o apoio de vários amigos de diferentes profissões, na qual juntos procuravam melhorar a vida de pessoas atendidas por Áurea enquanto defensora.

Certa vez, enquanto brincava com o filho em uma área de lazer, Áurea foi surpreendida pelo pedido de socorro de uma garota de 12 anos, Maria das Dores, vítima de assédio sexual em uma casa na qual era doméstica. “Pelo amor de Deus não me deixe voltar”, disse a garota. Através de uma autorização concedida pela Justiça, Áurea conseguiu com que “Das Dores” se hospedasse em sua casa, enquanto a defensora tentava localizar a família da pequena – uma busca que durou alguns meses e que contou com momentos tensos como quando os patrões foram à casa de Áurea tentar levar a menina de volta. Na partida de Maria das Dores para a casa dos pais biológicos, Áurea chegou a seguir de carro a condução que levava a menina, para garantir que ela não fosse raptada. Anos mais tarde, numa incrível coincidência, a mesma Áurea atendeu na Defensoria a patroa de Maria das Dores, que buscava separação por conta da violência doméstica. “Ela não me reconheceu”, conta.

Quando ouvi essa história, refleti sobre como a atitude nobre e corajosa de Áurea salvou a vida daquela menina, e quis saber como está a Maria das Dores. Soube que conseguiu chegar na casa dos pais e que algum tempo depois ambas acabaram perdendo o contato uma com a outra. Mas que ainda hoje Áurea a coloca em suas orações, como assim também faz com tantas outras pessoas a quem atendeu e ajudou. E na falta de uma delas para retribuiu todo o seu zelo, dedicação e solidariedade, digo eu mesmo a Áurea: Muito obrigado!

Por Lucílio Lessa

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