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Dra. Selda Lopes – Minha História, Nossa Luta

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Naquela manhã, a defensora pública aposentada Selda Lopes, 74 anos, conciliava os afazeres de casa e os cuidados com a mãe, dona Raimunda, 97, com a atenção aos diversos gatos que alimenta e cuida disciplinadamente todos os dias. Enquanto ajeita a cozinha, ouve alguém bater palmas no portão. Ao perceber que era um pedinte, separa alimentos de seu armário e os entrega ao visitante. Tudo isso em paralelo a uma conversa sem freios e a uma gargalhada que contagia, sempre que ela relata algum episódio pitoresco de uma vida cheia de histórias de afeto, solidariedade e amor não só ao próximo, mas aos animais.

Filha de um militar e de uma dona de casa, Selda nasceu em Missão Velha, mas foi registrada na capital cearense, quando com um mês de nascida veio com a família para Fortaleza. Terceira de uma prole de 11 irmãos, aprendeu desde cedo que a família é a base de tudo. Alfabetizada pelo pai, Selda só passou a freqüentar uma escola tradicional no ensino fundamental, época de idas e vindas de Fortaleza para Itapajé, cidade em que residiu em algumas ocasiões. Na capital, estudou no Externato São José e no Ginásio Municipal, formando-se posteriormente na Escola Normal.

O sonho em cursar Direito só foi concretizado após um longo período trabalhando como professora, já na casa dos 20 anos, época em que lecionava para menores abandonados no Núcleo de Menores Desembargador Olívio Câmara. Dois anos após concluir Direito, em 1967, conseguiu uma vaga de auxiliar no Departamento de Assistência Jurídica do Estado. Em 1970, foi efetivada como advogada de ofício, hoje defensora pública, na 2ª Vara Criminal, auxiliando também nas demais varas quando na ausência de defensores, tendo trabalhado ainda no Juizado de Menores e na Vara de Delitos de Trânsito do Fórum Clóvis Beviláqua, até se aposentar.

Realizada com a profissão que escolheu, Dra. Selda vez por outra ainda sonha com as tantas audiências que participou. Na simplicidade do seu cotidiano, toma para si responsabilidades que teoricamente não seriam uma obrigação sua, mas que por conta de sua generosidade, as assume com a nobreza e o anonimato característicos das pessoas verdadeiramente especiais. Tanto é assim que possui até uma conta no veterinário do bairro para beneficiar a quem precisa cuidar de animais, mas não tem condições. Fã de literatura, Selda é ávida leitora de tramas policiais, mas pelo jeito doce e altivo, nos remete às típicas heroínas dos romances. Aquelas que sempre trazem uma lição positiva e para as quais desejamos felicidades nos próximos capítulos.

Por Lucílio Lessa