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Impacto da pandemia nas periferias

Projeto Na Pausa aborda o impacto da pandemia do COVID-19 nas comunidades de periferia de Fortaleza

 

A Associação das Defensoras e Defensores Públicos do Estado do Ceará e a Defensoria Geral do Estado receberam, em seus perfis do instagram, a defensora pública Mariana Lobo e o médico epidemiologista Antônio Silva Lima Neto para uma conversa sobre a pandemia do novo coronavírus e a desigualdade social. O encontro durou cerca de uma hora e faz parte da parceria entre a ADPEC e a Escola Superior da Defensoria Pública.

A defensora pública Mariana Lobo iniciou o encontro pontuando a situação da chegada do COVID-19 nas periferias da nossa capital e as dificuldades de cumprir as medidas de segurança. “A pandemia trouxe uma luz para a desigualdade social em que vivemos no Ceará e no nosso país, são comunidades sem acesso ao saneamento básico, água potável, atenção básica de saúde e a moradia”. Por sua vez, Dr Antônio concordou com a afirmação e complementou que essa característica é muito própria do Brasil e que diferentemente de regiões como a Europa e o Hemisfério Norte, onde a desigualdade social é menor, a propagação do vírus teve um outro comportamento, se manteve nas classes média e alta, enquanto no nosso país ele iniciou nas regiões com IDH mais elevado, porém, rapidamente se alastrou para a periferia.

Ambos debatedores concordaram que a grande dificuldade enfrentada hoje no Brasil, até por ser um país com território amplo, é a falta de alinhamento das posições políticas de combate ao vírus. “Uma política nacional unificada que não adotasse o negacionismo científico seria o melhor caminho para lutarmos contra a pandemia”, afirmou Dr. Antônio. Mariana Lobo citou como exemplo de parceria, que pode auxiliar no combate ao vírus nas periferias, uma ação conjunta da Defensoria com a Cagece para o abastecimento de água na comunidade Raízes da Praia que até então não tinham acesso à água potável.

Quando questionado por Mariana Lobo sobre as providências ideais para o combate ao vírus dentro do sistema prisional, Dr. Antônio destacou que já existiam ações do governo nesse sentido e que seriam as mais indicadas nesse momento: a testagem rápida no maior número de trabalhadores e internos, além da capacidade de afastamento dentro do sistema. Sobre a possibilidade da existência de uma “fila única” no estado, mecanismo levantado por Mariana Lobo como uma possibilidade de diminuir a diferença no atendimento de pacientes com classe social díspares, Dr. Antônio pontuou que com a realidade dos leitos de UTIs no Ceará essa alternativa não teria o efeito esperado, visto que os leitos privados não são muitos no estado, diferentemente de São Paulo que possui um número amplo de leitos particulares, e que além disso, os leitos privados estariam tão ocupados quanto os públicos.

A conversa foi encerrada com Dr. Antônio destacando que para combater qualquer epidemia como esta, que não se via desde a Gripe Espanhola, é preciso, fundamentalmente, ter paciência, ter solidariedade entre classes, informações qualificadas de como agir e se guiar pela ciência. “O Sistema Inglês de Saúde é o maior orgulho deles, temos que valorizar o nosso SUS. A classe média e alta, que até usam o SUS sem saber, precisam valorizá-lo. O SUS é um patrimônio nacional”, concluiu.