Minha História, Nossa Luta

Dr. Francisco de Sales Teófilo Neto – Minha História, Nossa Luta

Na etapa derradeira daquele julgamento, o Dr. Francisco Teófilo, titular do Júri, há muito já havia reparado naquela senhora humilde, sentada e chorando angustiada em meio ao público presente. Ela era a mãe do réu, um jovem rapaz acusado injustamente de homicídio. “Por fim, consegui a absolvição dele. Então o peguei pelo braço, levei-o até ela e disse: ‘Está aqui o seu filho’. Ela se abraçou comigo e olhando bem para mim, falou: ‘Nunca, nunca vou poder retribuir a justiça que o senhor fez hoje. Nosso Senhor Jesus Cristo lhe pague’”. E saiu, carregando pelo braço o filho, e deixando o Dr. Francisco aliviado com o final daquela história. “Profissionalmente, foi o dia que mais marcou a minha vida”, diz ele.

O trecho poderia ter sido retirado de um filme, mas faz parte da trajetória do defensor público aposentado Francisco de Sales Teófilo Neto. Fato que ilustra bem o perfil humanista deste pequeno grande notável. Natural de Fortaleza, Francisco, ainda criança, mergulhou nas questões sociais e políticas do País. Dessa época, há pelo menos um momento que aparentemente determina seu precoce interesse pelos temas comuns aos adultos, mesmo sendo ele à época um menino do interior: a morte do então presidente Getúlio Vargas. “Eu sempre acompanhava a política nacional, pois minha família se interessava muito pelo tema”, conta ele, que é parente do escritor, poeta e articulista Rodolfo Teófilo.

Ademais, Francisco era um menino comum, que vivia às voltas pra lá e pra cá na fazenda do pai, sentindo o cheiro do mato, do gado, e fazendo mil peripécias em meio a vida no campo. “Pegava o cavalo e saia com papai, cavalgando”, diz. Foi nessa época que perdeu o único irmão, um pouco mais novo que ele. “Meu irmão faleceu de causas naturais, mas não sei externar direito quais. Eu tinha uns 11 anos”, conta. Não tardou, Francisco foi morar na capital, na casa das tias. No Colégio Odorico Castelo Branco, apaixonou-se pela Geografia, assunto que o fascina até hoje. “Tínhamos um professor, o Nogueirinha. Ele reunia todos os alunos e dava uma aula sempre que viajava, contando detalhes dos locais que visitava. Foi quando percebi a discrepância que existe no nosso País”, ressalta. Ao concluir a escola, cursou Teologia, mas nunca pensou em ser padre. Mesmo assim, passou um período junto com Jesuítas, em Salvador. A verdade é que sempre se interessou pelos assuntos que formam o ser humano, daí sua paixão também pela Filosofia.

Aos 22 anos, foi aprovado no curso de Direito. Na faculdade, ouviu de um professor que a assistência judiciária aos necessitados é o que faz o Direito no País. Nessa época, conheceu a futura esposa, Lúcia, uma estudante de Letras torcedora do Fortaleza Esporte Clube. Detalhe: Francisco era torcedor do Ceará. “Íamos juntos aos jogos, mas nunca brigamos”, diz. Ao se formar, casou, e deu início ao trabalho como advogado, fazendo assessorias a empresas, seguido de uma atuação como assessor da Secretaria da Justiça do Estado do Ceará.

Certo dia, ao saber do concurso para advogado de ofício, hoje defensor público, se inscreveu, mas acabou não atentando para a data exata da prova, até que através de comentários de amigos, acabou lembrando do concurso quando este estava a poucos dias de ocorrer. “Passei uns três dias estudando, direto. Quando vi a prova, a impressão que tive era que o concurso era basicamente para selecionar quem sabia advogar, pois era voltado para a prática da profissão”, conta.

Aprovado, Francisco deu início à uma trajetória que o levou inclusive a ser Corregedor Geral do Estado do Ceará. Mas foi como titular de Júri que trabalhou a maior parte de sua carreira. Sem ordem cronológica, ressalte-se que o Dr. Francisco atuou na comarca de Caucaia; na 2ª Vara de Entorpecentes da Capital; na 5ª Vara do Júri; na 11ª Vara Criminal (época em que conheceu o Juiz Vicente Eduardo Sousa e Silva, a quem faz questão de citar pelo perfil humanista); no Presídio Auri Moura Costa; e no Fórum das Turmas Recursais; quando se aposentou.

Durante muito tempo, em paralelo a muitas dessas atividades, Francisco Teófilo também atuou como professor de cursinhos pré-vestibulares e concursos. Diante de tantas atividades, um dia acabou passando mal no trabalho. Assim, a pedido dos dois filhos e da esposa, procurou diminuir o ritmo, deixando as salas de aula posteriormente. Mas até hoje lembra com carinho dos alunos a quem ajudou a compreender o Direito. “O Direito é a essência do justo”, pondera. Hoje, Francisco dedica o seu tempo a viajar com a esposa pelo Brasil e para o exterior, tentando, assim como seu antigo professor de Geografia, entender o País e o mundo. Na cabeceira, somam-se os livros de Direito os de economia e geografia. E para quem quiser saber, a próxima meta já está definida. “Vou conhecer esse país de ponta a ponta. Eu sei, ele é muito grande, mas aos pouquinhos a gente chega lá”, conclui.

Por Lucílio Lessa

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