Minha História, Nossa Luta

Dr. Raimundo Brandão – Minha História, Nossa Luta

A Adpec traz, na 11ª. edição da coluna “Minha História. Nossa Luta.”, a história do Defensor Público aposentado, Dr. Raimundo Brandão. Teve uma vida política atuante, assumiu a Secretaria de Justiça em três ocasiões, mas confessa que a sua grande paixão era o tribunal do júri.

 

Raimundo Brandão

Natural de Caraúbas, no Rio Grande do Norte, Dr. Raimundo Brandão veio com a família para Fortaleza com 15 anos de idade. Formou-se em Direito pela Universidade Federal do Ceará, em 1966. À época exercia o mandato de vereador em Fortaleza.

Atuou como advogado até 1978, quando foi aprovado no concurso para Defensor Público. No mesmo ano, foi inaugurado o Instituto Penal Professor Olavo Oliveira-IPPOO, para onde foi nomeado. Ele lembra que, quando assumiu, o presídio abrigava 29 detentos. “Não durou muito, e o presídio começou a receber muitos presos”, diz. Ao longo dos 11 anos em que trabalhou no local, presenciou aquela unidade prisional dar os primeiros passos para a superlotação de abrigados.

Ao deixar o IPPOO, passou atuar nas varas criminais. “Mesmo estando no Olavo Oliveira, sempre fazia júri. Creio que poucos fizeram tanto júri como eu. Isso porque eu era apaixonado pelo tribunal do júri. Fazia tanto em Fortaleza, como no interior do Estado”.

Enquanto atuava como Defensor Público, Dr. Brandão mantinha outra paixão que era a política. Em 1982, candidatou-se a deputado estadual, pelo PDT – foi o fundador da legenda no Ceará. Não obteve vitória, mas permaneceu como membro da diretoria do partido. “Fundei o PDT em mais de 30 municípios cearenses”, recorda.

Em 1991, Dr. Brandão passou a atuar como titular da Coordenadoria do Sistema Penal-Cosipe. Permaneceu no cargo até 1994, quando ocorreu a rebelião e sequestro no Instituto Penal Paulo Sarasate-IPPS. Eram 9 horas, do dia 15 de março daquele ano. Dr. Brandão acompanhava Dom Aloísio Lorscheider, então cardeal arcebispo de Fortaleza, durante uma visita pastoral ao presídio, quando 14 presos se rebelaram e fizeram refém 13 pessoas, inclusive ele e o cardeal. “Foram momentos de muita tensão”, conta Dr. Brandão, que foi imobilizado com uma faca no pescoço. “Na hora, eu perdi a cabeça, me agarrei com o preso, lutei com ele”, conta.

Os reféns ficaram em poder dos detentos por 20 horas. Os presos saíram do IPPS por volta de 22 horas, em um furgão, levando os 13 reféns, e só foram libertados às 6 horas da manhã do dia seguinte. Mais tarde, Dr. Brandão relatou todo o trauma vivido no seu livro: O pastor e os 12 reféns.

O episódio provocou o licenciamento do então secretário de Justiça, Antônio Tavares. Dr. Brandão assumiu interinamente a Pasta, atuando por quatro meses. Ele conta que ao nomear o novo secretário, Dr. Édson Pinheiro, o então governador Ciro Gomes fez referência a seu nome que lhe encheu de orgulho. “Ele disse: ‘Dr. Édson, o senhor não entende nada desta secretária, que é a mais difícil por lidar com o pior material humano. Mas, deixe tudo com este velho aqui (me puxando pelo braço), que ele conhece tudo desta área e revolve qualquer problema’. Na hora, eu chorei.”, ressalta, acrescentando que passou a atuar como subsecretário de Justiça.

Dr. Brandão continuou como subsecretário na gestão de Paulo Duarte. Com a saída deste para a Assembleia Legislativa, assumiu, mais uma vez a secretaria, por três meses. Após este período, em 1998, requereu aposentadoria.

Ele lembra que, mesmo com as atividades na secretaria de Justiça, sempre atuou junto aos colegas Defensores Públicos em prol dos pleitos da categoria. “Participei das diversas atividades da Defensoria, como reuniões, manifestações e, sobretudo, das mobilizações junto aos deputados. Como tinha uma atuação política e mantinha boas relações com alguns deputados, pedia o apoio destes nas reivindicações da Defensoria Pública e intermediava os contatos dos colegas com os parlamentares”, ressalta, acrescentando que sempre votou nas eleições da Adpec.

Além do livro sobre o episódio do IPPS, Dr. Brandão escreveu um outro onde relata os 15 anos vividos no Rio Grande do Norte, intitulado “A viagem da saudade”. Um terceiro livro já está sendo produzido.

Por Lucílio Lessa

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