Notas de repúdio, Publicações

Nota Pública: Justiça para Gaia e liberdade para Mirian!

Gaia e MirianEm nota pública, movimentos sociais e parlamentares pedem justiça para o caso da turista italiana que foi encontrada morta em Jericoacoara, bem como a liberdade da farmacêutica Mirian França, presa desde o dia 29 de dezembro sob a suspeita de ter cometido o crime. Os signatários da nota elogiam a atuação da Defensoria Pública na defesa de Mirian, cuja prisão teria sido motivada por racismo, segundo os movimentos sociais e a família da moça.

O corpo de Gaia Molinari, de 29 anos, foi encontrado em meio a um matagal, na tarde de 25 de dezembro, por um casal de turistas na área do Serrote, caminho que leva à Pedra Furada, um dos pontos turísticos de Jericoacoara. Mirian foi presa temporariamente quatro dias depois. A Defensoria acompanha o caso desde o dia 30 de dezembro e solicitou a soltura da farmacêutica diante da falta de provas de que seja autora do crime.

Leia a nota na íntegra:

Nota Pública: Justiça para Gaia e liberdade para Mírian!

Os movimentos, redes e organizações abaixo-assinados vêm repudiar a prisão da farmacêutica, jovem pesquisadora negra da UFRJ, Miriam França de Melo. Consideramos que essa prisão é uma grave violação a direitos e garantias fundamentais, configurando-se uma violência institucional, inadmissível no Estado democrático de direito. A jovem Miriam está sendo mais uma vítima de um Estado e sociedade que naturalizam as prisões sem fundamento e que têm, muitas vezes, motivações inconfessáveis, de preconceitos históricos, como o machismo, o racismo e a homofobia.

Desde o início, Miriam colaborou com o trabalho de investigação policial, dispondo-se a depor e se colocando acessível. A alegação da polícia que ela poderia ter se contradito não é elemento suficiente para a prisão temporária. A prisão é medida excepcional, assim determina o ordenamento jurídico. E neste sentido, a prisão de Miriam fere o Princípio Constitucional da presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF). O que a polícia está fazendo, com o respaldo do poder Judiciário, até então, é um julgamento antecipado, que expõe Miriam, sua imagem e sua história, sem justificativa, de forma negativa, para a imprensa e toda a sociedade.

A polícia deve realizar o seu trabalho e buscar a verdade dos fatos dentro do que determina a Constituição e as Leis. Precisa buscar justiça para o assassinato de Gaia, uma mulher, jovem e independente, morta de uma forma que retrata e aumenta as estatísticas dos feminicídios no Brasil. Assim, o crime ocorrido em nosso estado deve ser rigorosamente investigado, seus responsáveis punidos/as de acordo com a legislação pátria e mediante provas, mas não podemos admitir que
isso ocorra a custa de ilícitos, de abusos ou de violações outras.

Reconhecemos a importância do trabalho que está sendo realizado pela Defensoria Pública do Estado do Ceará, instituição que atende a população vulnerável, pobre e negra, que tem sido discriminada. Pois se é certo que a polícia deve realizar o seu trabalho, também é certo que a Defensoria Pública existe para garantir a defesa dos (as) vulnerabilizados (as) como Miriam.

Agora, aguardamos com apreensão o Poder Judiciário. Dele se espera, como último guardião de direitos e garantias, que não se chancele ou permita a manutenção de violações como a que está sofrendo Miriam. Por causa de confusa postura
do juiz competente e esdruxula norma do Conselho Nacional de Justiça-CNJ, ainda não foi apreciado o pedido de Revogação de sua prisão. O Juiz, por estar no plantão, remeteu ao juízo competente, fundamentado na Resolução nº 71/2009, do CNJ. Mas o que é de se admirar é que ele próprio é o juiz competente, o que quer dizer que remeteu para ele mesmo, mantendo, sem apreciação, a injusta prisão de Miram França.

Acreditamos que a polícia deve trabalhar com inteligência. Nem a polícia, nem o Judiciário podem se fundamentar em achismos e estigmatizações. O Brasil é o terceiro país em população encarcerada, sendo a maioria negra, e isto não significa mais justiça, pelo contrário.

Quanto mais for prolongada a injusta prisão de Mirian, maior será a demora na resposta da justiça para Gaia. Justiça para Gaia e Liberdade para Mirian!

Assinam esta nota:

CENARAB
Centro de Africanidade e Resistência Afro-Brasileiro
Centro de Assessoria Jurídica Popular Mariana Criola
Centro Popular de Cultura e Eco-cidadania – CENAPOP
Colégio de Ouvidorias de Defensorias Públicas do Brasil
Coordenação Nacional de Entidades Negras – CONEN
Conselho Popular do Serviluz (Fortaleza-Ceará)
Consulta Popular
Coletivo ENEGRECER
Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar (Ceará)
Fórum Cearense de Mulheres
Fórum de Juventude Negra
Grupo Tambores de Safo
Instituto de Juventude Contemporânea – IJC
Instituto Negra do Ceará – INEGRA
Instituto Mídia Étnica
Justiça Global
Juventude Negra Kalunga
Juventude, Socialismo e Liberdade – JSOL
Kizomba Ceará
Levante Popular da Juventude
Marcha Mundial das Mulheres – MMM
Movimento de Luta de Bairros, Vilas e Favelas – MLB
Movimento Negro Unificado
Rede Juventude de Terreiros – Pernambucano
Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares do Ceará – RENAP/CE

PARLAMENTARES
Elmano de Freitas – Advogado e Deputado Estadual Eleito do PT-CE
João Alfredo – Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Fortaleza
Renato Roseno – Advogado, militante de Direitos Humanos, Deputado Estadual Eleito pelo PSOL – CE.
Ronivaldo Maia – Vereador de Fortaleza do PT
Toinha Rocha – Advogada e Vereadora de Fortaleza do PSol