A violência atinge hoje patamares alarmantes. Vivemos uma crise sem precedentes e a população brasileira anseia por soluções urgentes para um problema que rouba a paz de todos nós. Vários fatores são indicados como causadores desta situação, tais como a urbanização acelerada; as fortes aspirações de consumo, frustradas pelas dificuldades de inserção ao mercado de trabalho, e a disseminação da droga no meio dos jovens. Porém, o que mais intriga é ver que até o momento não percebemos nenhuma ação estatal consistente no sentido de resolver tal situação. O que presenciamos são medidas superficiais, cosméticas, que não enfrentam as verdadeiras causas e fazem perdurar uma cultura do medo que envolve a todos, crianças, jovens, adultos e idosos. As pessoas sentem medo hoje de sentar nas calçadas, de ir ao supermercado, de sair à noite e até de se relacionar. E nos vem a pergunta: a quem interessa essa cultura do medo?
Por conta dessa sensação de insegurança constante, nasceu um mercado forte que se alimenta e retroalimenta o medo de todos nós. Quanto mais medo sentimos mais cercas elétricas compramos, mais seguros fazemos, mais carros blindamos, mais seguranças privados contratamos. O medo transforma-se numa forma de dominação, pois aceitamos ser filmados e vigiados em elevadores, ruas, praças, lojas e até em salas de aula. Toleramos abusos por parte da Polícia e aceitamos a diminuição de nossos direitos, tudo em nome da segurança.
Essa dominação se revela na negação da cidadania plena e na hegemonia de um conceito equivocado de democracia baseado somente no sufrágio universal. O Estado forte e protetor aliado a uma sociedade insegura e temerosa são características maquiavélicas dessa democracia atual.
Os meios de comunicação são instrumentos úteis para disseminar a sensação de insegurança, pois os crimes são noticiados de forma a causar impacto aos que leem ou assistem aos noticiários especializados, nos tornando cada vez mais reféns da violência. Esse medo cultivado no meio social afasta o olhar da multidão para seus reais problemas. Essa é a lógica: produzir um mecanismo que desvie a atenção indefinidamente, sempre afirmar o problema e nunca resolvê-lo.
Renan Cajazeiras Monteiro – Defensor público e professor universitário