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909 mil cearenses subsistem com até R$ 58 por mês

Fonte: Diário do Nordeste – Gustavo de Negreiros (repórter)

Os números chegam a ser trágicos e trazem uma constatação: o Ceará continua sendo extremamente pobre. No Estado, 909 mil pessoas estão em situação de máxima pobreza e tentam viver com uma renda mensal que chega até R$ 58. Isso quer dizer que 10,6% de toda a população cearense recebem por mês apenas um oitavo do salário mínimo referente a 2009, que era R$ 465. Os dados foram levantados em estudo divulgado ontem pelo Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), vinculado a Universidade Federal do Ceará (UFC) e são referentes ao ano de 2009, que foi de crise.

De acordo com o estudo, os resultados do Ceará colocaram o Estado como a quarta unidade da Federação com maior proporção da população nesse status miserável, ficando em situação menos trágica que estados como Alagoas (14,8%), Maranhão (13,87%) e Pernambuco (11%). Para se ter ideia da discrepância com outros estados brasileiros, em São Paulo, apenas 2,17% dos habitantes estão nessa faixa de renda, assim como o Distrito Federal (2,46%) e Santa Catarina (1,59%). Para Flávio Ataliba, coordenador do LEP, a pesquisa mostra um retrato da situação e deve referenciar as políticas públicas para amenizar o problema. "Não temos pretensão de apresentar soluções para os problemas, mas esse é retrato mostra o enorme desafio que se tem pela frente. Precisa haver mais investimento na infraestrutura social par a um crescimento sustentável da economia", explica.

Já para o pesquisador do LEP, Carlos Alberto Manso, o levantamento mostra que a sociedade cearense enfrenta uma doença. "Estamos mostrando que a febre continua alta. São números de extrema gravidade", comenta o pesquisador. Na divisão por áreas censitárias, a pobreza extrema aparece de forma equiparada nas zonas rural e urbana. Cada uma apresenta 38% de todos os 909 mil em situação precária

MAIS MISÉRIA

O estudo também divulgou outros dados da pobreza no Estado. Quase metade da população cearense
(49,11%), 4,2 milhões de pessoas, sobrevivem com metade do salário mínimo. Nesse quesito, o Ceará é quinto colocado no País. Com um quarto do mínimo, são 24,18% da população do Estado.

416,5 mil jovens estão com o futuro em xeque

São as crianças que mais sofrem com a pobreza no Ceará. O dado impressionante da pesquisa do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) mostra que nada menos que 17,9% dos jovens de 0 a 14 anos no Estado estão na situação de extrema pobreza. São 416,5 mil pequenos cidadãos que estão com o futuro em xeque. A sociedade também.

"Cabe às autoridades, ao Governador, escolher se salva ou não toda uma geração que está fadada a repetir os próprios pais, que não tiveram oportunidade de galgar um futuro melhor, que não puderam avançar no campo da escolaridade", comenta o coordenador do LEP, Flávio Ataliba. No Brasil, apesar de os número se apresentarem ainda graves, a proporção de crianças incluídas nos quadros de extrema pobreza é bem menor que o Ceará, 9,66%.

Da população total que vive em extrema pobreza no Ceará, 45,83% são exatamente essas crianças. Logo depois vem a faixa imediatamente mais velha, de 15 a 24 anos, que representa 10,21% do total de habitantes nessa faixa etária. A pirâmide etária da pobreza tem em sua base a população mais jovem e tem no topo a população mais velha, com mais de 65 anos. Destes, 0,16% passam pela situação miserável.

"É interessante e pode ser objeto de pesquisa futura o peso e a importância da previdência para a melhoria das condições dos idosos, enquanto entre os mais novos percebe-se exatamente a falta de políticas de inclusão e principalmente a baixa eficiência da educação, que não consegue manter o aluno na escola", afirma Carlos Alberto Manso.

AÇÕES DO GOVERNO

Indagados sobre as ações do Governo, principalmente no que diz respeito ao alto investimento em obras estruturantes, como a siderúrgica, refinaria, entre outros, os pesquisadores do LEP foram unânimes em afirmar que este tipo de investimento não deve trazer resultados, nem mesmo incidir de forma mais eficaz na redução dos índices de pobreza tão drásticos.

"A Bahia tem um polo petroquímico desenvolvido e tem números da pobreza tão piores quanto o nosso. Está mais do que provado que esse tipo de ação não resolve o problema. Tem de haver investimento na infraestrutura social, que tem a ver com as políticas de transferência de renda, mas principalmente com a melhoria das condições de moradia e investimento na educação", disse o economista Arnaldo Santos.

Já para Flávio Ataliba, com esse enorme contingente de pessoas sem o menor poder de consumo, a economia perde em dinamismo e um efeito em cadeia se forma. "É importante que as pessoas sejam atendidas ao ponto de participarem da economia. Com pouca renda, as condições de saúde também são afetadas, o que gera baixa produtividade", ressalta. Os dados da pobreza mostram a discrepância que existe entre as regiões.

DOIS BRASIS

São praticamente dois Brasis. Um extremamente pobre, que é o Nordeste, e o resto. Das 10 milhões de pessoas na situação de extrema pobreza em todo o País, 57,29% são da região nordestina. A proporção por habitante é quase o dobro da média nacional, com o registro em 10,67%.

Em comparação ao Sudeste, que tem a proporção de 2,61% nessa situação, a diferença é muito grande. No total, são 5,7 milhões de pessoas que vivem com R$ 58. Das famílias em situação de extrema pobreza, a renda média per capita ainda é menor, cerca de R$ 24 mensais. Para quem trabalha e vive nessa faixa de renda, o salário médio é de R$ 112 e a produtividade é ainda menor R$ 3 por hora.