O Brasil é, sem dúvidas, um país de muita diversidade. Somos um país
miscigenado, multicultural, plurirreligioso, mas, apesar disso, não aprendemos a conviver
com essas diversidades. A despeito de sermos de diversas origens étnico-raciais,
culturais e sociais, paradoxalmente, somos segregadores, como se o diverso afrontasse e
invadisse a “normalidade”, causando-lhe um temor narcisista e freudiano.
Por que tanto temor pelas ações afirmativas, pelas vozes das ruas, pelos
movimentos sociais, pelo que nos parece diferente? Por que, em nome dos costumes, da
religião, da boa índole e da moral, prega-se o ódio, a violência e até a morte das pessoas
que agem e pensam diferente de nossas convicções? É tão grotesco quanto incongruente
combater o amor com o ódio.
Foi em nome da higienização das raças que se cometeu a maior atrocidade do
século passado com o holocausto. Vivemos atualmente em uma sociedade marcada pelo
ódio, pela violência vil, pelo preconceito e pelo desrespeito. Nesse contexto é muito
importante ter um dia destinado a refletir sobre o respeito à diversidade e homenagear
tantas pessoas que foram hostilizadas, vítimas de violência e até mortas por defenderem
o direito de amar! Ainda é preciso ir às ruas para defender esse direito, pois o amor insiste
em pedir passagem: “abram alas que eu quero passar”!
Com a palavra, sua majestade: o amor! Deixem que o amor passe, grite bem alto
sua existência, deixem que ele nos invada a alma e o coração. Deixem que ele nos
exploda de alegria e de felicidade. De mal algum o amor é capaz, ao contrário do ódio, do
preconceito, da indiferença, da exclusão. Quem ama não tem tempo para o ódio ou para
se importar com o amor do outro.
É por e para o amor que tantos se vestem de coragem e de alegria, pintam-se,
travestem-se, porque o amor não é cinza, não é sem graça, o amor é riso, é doação, é
entrega, é prazer.
Ah! E como incomodam aqueles que levam às ruas o que tem no peito, o que há
de melhor em si: o amor! Incomoda o beijo espontâneo, o abraço dos iguais que tanto
acolhe e protege. Incomoda porque o amor é para poucos e quem não ama acha feio,
imoral ou amoral aquele que consegue amar e ser amado sem preconceitos.
É preciso refletir, intimamente, por que a expressão do amor causa tanta rejeição.
O que tanto se quer afastar com isso? Que fantasmas se pretende manter seguro no
íntimo sem que ninguém os veja?
Eu não falo de tolerância, porque não se trata de aceitar ou não o que não nos
cabe e não nos compete. Trata-se de respeito e de alteridade, falo de respeitar o amor e
rejeitar o ódio porque ele não nos foi ensinado, esse não é o legado cristão. O desrespeito
e a intolerância são atributos de pessoas más, desumanas e cruéis que desaprenderam o
valor humano do afeto, que não veem beleza na vida, além do espelho.
É preciso falar de flores, de amor, de beleza e de alegria. A vida não há de ser um
fardo, a vida é bela e há de ser vivida com ternura, leveza e amor. O amor pede
passagem! O amor está com a palavra, deixem que ele nos fale e nos ensine.
Ana Cristina Teixeira Barreto
Defensora Pública e Doutoranda pela Universidade Coimbra