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Defensora Pública participa como voluntária de projeto que possibilita a capacitação de internas como artesãs

As vivências profissionais e também pessoais da Defensora Pública, Aline Miranda, ganharam outros sentidos em sua vida após ela ingressar como voluntária e líder do Comitê de Cultura de Paz do Grupo Mulheres do Brasil. Isso porque, no decorrer de 18 anos trabalhando no sistema carcerário e agora lotada no Presídio Feminino Auri Moura Costa, a Defensora participa ativamente de projetos que visam trabalhar a reinserção social de pessoas privadas de liberdade, tanto intramuros, como extramuros. Sendo um desses projetos o “Vozes da Liberdade”, onde mulheres serão capacitadas para se tornarem artesãs e depois terão o auxílio financeiro para construir o seu próprio negócio no segmento. A ADPEC conversou com a Defensora Pública, Aline Miranda, para entender um pouco mais desses projetos liderados por ela e pelo Grupo Mulheres do Brasil. Confira na entrevista abaixo.

ADPEC: Aline, como iniciou sua experiência no Grupo Mulheres do Brasil e nos seus devidos projetos voluntários?

Defensora Aline Miranda: Sei que o desenvolvimento de projetos dessa natureza é muito importante para a reinserção de egressos na sociedade e por isso sentia a necessidade de ir além das demandas jurídicos-processuais. Entrei a convite de Annette Reeves para o Grupo Mulheres do Brasil em 2016 e encontrei em sua conduta o apoio para realizar ações no Sistema Prisional, unindo a minha função institucional com a articulação da sociedade civil. Muitas ações se suscederam, mas foi em 2018 que eu fiz o Curso de Facilitadora em Círculos de Construção de Paz através do Grupo Mulheres do Brasil, e ministrado pelo Programa Olhares e Fazeres Sistêmicos. Conhecendo essa metodologia e sua potência, tivemos a ideia de levar as voluntárias do Grupo Mulheres do Brasil que fizeram a mesma qualificação, para realizarem os Círculos de Construção de Paz e o Curso de Comunicação Não-Violenta no presídio que eu atuava na época, que era a CPPLIV. A experiência foi bastante exitosa. Posteriormente, após o pedido de um interno para aprender artesanato, já desenvolvemos, em parceria com o Comitê Artesanato, três projetos nesse sentido: Rede de Sonhos – CPPLIV; Bordando a Vida – IPF, e
Criando Laços – UP Irmã Imelda, todos contando com a expertise da conhecida designer Ethel Whitehurst. Atualmente, permanecem os projetos Bordando a Vida e Criando Laços, nos respectivos centros. E agora estamos iniciando o novo projeto “Vozes da Liberdade”.

ADPEC: Aline, nos explica como é o Projeto “Vozes da Liberdade”.

Defensora Aline Miranda: O projeto é de iniciativa do Grupo Mulheres do Brasil e foi construído coletivamente para 10 egressas do sistema prisional, que enquanto cumpriam pena, receberam aulas e foram qualificadas como artesãs, bem como participaram de círculos de construção de paz, além de outras práticas restaurativas e palestras que realizamos dentro do presídio. Agora elas estão acompanhadas pelo Projeto Novo Tempo das Varas de Execuções Penais do TJ, em parceria com o Grupo Mulheres do Brasil e a Defensoria Publica, esta última acompanha juridicamente os processos. No Projeto Vozes da Liberdade, as internas recebem, do Fundo Dona de Mim do Grupo Mulheres do Brasil, um valor de R$ 2.000,00 reais e terão 16 meses para pagar parceladamente, com uma carência inicial de 4 meses, sem nenhum juros. O objetivo é que elas possam empreender no seu próprio negócio na área do artesanato, qualificando seu trabalho com a orientação no design das peças, feita por dois voluntários experts que irão orientá-las. Depois das peças produzidas, o Grupo Mulheres do Brasil, através do e-commerce TERRARTESÃ, irá comprar a produção e comercializar as peças, garantindo um retorno inicial para que o negócio delas possa adquirir sustentabilidade. Assim as mulheres que estão se reintegrando à sociedade encontram apoio para o crescimento de seu negócio e depois poderão tocá-lo com mais tranquilidade no mercado. Concomitantemente, o Grupo Mulheres do Brasil irá ministrar para elas uma mentoria no campo do empreendedorismo, através de encontros periódicos para que recebam toda a orientação necessária sobre gestão do negócio, aprendendo, por exemplo, a precificar os produtos, técnicas de vendas, dentre outros.

ADPEC: Como você auxilia esse projeto diretamente?

Defensora Aline Miranda: Irei ministrar, enquanto Defensora Publica, palestras sobre Direitos e Educação para exercício da Cidadania. No campo das práticas sistêmicas, elas permanecerão com o suporte do Grupo Mulheres do Brasil e do Programa Olhares e Fazeres Sistêmicos das Varas de Execuções Penais, bem como estamos fechando parceria com universidades que possuem clínicas escolas de psicologia para um acompanhamento individualizado, quando elas o demandarem. Estamos também recebendo muito apoio de outras instituições e construindo uma rede que irá atuar contribuindo com o êxito do projeto, tais como a CMA-OABCE e a ABMCJ, dentre outros. O convênio entre as instituições parceiras deve ser assinado em breve, contamos que teremos também o apoio institucional da Defensoria Publica do Estado do Ceará. Fazemos esse trabalho como órgão de atuação no sistema carcerário e como uma das líderes do Grupo Mulheres do Brasil, mas ainda não temos a formalização de nenhum Termo de Cooperação.

A ADPEC parabeniza a Defensora Aline Miranda e a todas as instituições envolvidas no trabalho com as internas, afinal todos merecem oportunidades iguais e merecem estar inseridos na sociedade.